Sunday, January 30, 2005

O verdadeiro problema da política monetária é a forma como encara a política fiscal

Alguns críticos dizem que o problema da política monetária é a independência do Banco Central. Estão errados. Outros dizem que se deveria aumentar o número de membros. Estão errados também. E alguns poucos dizem que o problema é o gasto público, mesmo que seja este um problema de difícil solução. Estão parcialmente certos.

Neste - longo - artigo argumento que o problema consiste na visão que o Banco Central transmite à sociedade sobre o que pensa de sua irmã gêmea: a autoridade fiscal.

Entende-se que a inflação é um elemento que distorce e prejudica a tomada de decisão dos agentes econômicos e que seu controle é desejável. Entretanto, a tarefa do setor público como um todo, dizem, consiste não apenas no combate à inflação mas também na criação de condições adequadas ao funcionamento dos mercados. Neste sentido, não se pode pensar que aumentos sucessivos da meta de juros gerem automaticamente queda da inflação. Por que?

i. Aumentos de juros podem ter dois efeitos na economia. Alguns grupos lucram e outros arcam com prejuízos quando isto ocorre, simplesmente por serem credores ou devedores de títulos que rendem juros. Juros altos e inflação baixa geram ganhos reais para os credores, mas não para os devedores. Neste sentido, a própria dívida pública tem seu montante a pagar aumentado a cada acréscimo dos juros. Como o indicador relevante para os analistas é a razão dívida/PIB, a única forma de se obter redução da mesma é se o PIB crescer mais do que cresce a dívida. Isto nos leva ao segundo argumento deste artigo: como os juros afetam o lado real da economia, ou seja, o PIB?

ii. Uma alta taxa de juros real – que é a taxa de juros nominal descontada da taxa de inflação – gera aumento de custos para os tomadores de empréstimos que pretendem investir em capital físico, condição básica para a ampliação da capacidade produtiva. Esta, por sua vez, permite ao empresário ter maior margem para ofertar produtos sem significativos aumentos de custos. Altos juros, portanto, significam menos investimentos e, portanto, menos crescimento econômico.

iii. Claro que se deve ter cuidado ao se tratar os mercados de forma tão homogênea. Estruturas de mercado distintas – em termos de competição – geram pressões sobre os preços distintas. Assim, têm razão, por outro lado, os analistas que apontam para a possibilidade de que alguns setores da economia operem com alta capacidade instalada mas também com margens de lucros elevadas. A “cartelização” é normalmente combatida através do uso de agências reguladoras como o CADE, ANATEL, ANEEL, etc. Neste quesito, o governo atual também não tem se mostrado um bom entendedor da lógica do mercado, tendo, nos últimos meses, utilizado as agências como repositório de políticos derrotados nas eleições. Assim, um elemento adicional de contenção inflacionária que seria garantido pela correta operação destas agências se vê prejudicado. Some-se a isto o fato de que boa parte das pressões sobre o núcleo de inflação – para cima – têm sido observadas sobre os preços administrados, justamente os que mais necessitam de supervisão destas agências, ora debilitadas.

iv. Há ainda um último instrumento importante na busca do crescimento sem inflação – que chamaremos de crescimento verdadeiramente sustentável – o próprio esforço do governo em se ajustar e diminuir sua necessidade de endividamento. É possível que o governo tenha este papel complementar ao setor privado? Sim. Basta que diminua seu deficit Isto pode ser feito de duas formas básicas: corte de gastos (preferencialmente privilegiando a qualidade dos serviços públicos) e aumentos de receita tributária. No primeiro caso, como se sabe, há a necessidade de certa vontade política, algo que o governo atual não parece ter pela sua própria base de apoio histórica (sindicatos de funcionários públicos).

Uma saída é tentar arranjos como as PPP (Parcerias Público-Privadas) que transferem para o setor privado responsabilidades públicas. Mas este tipo de instrumento necessita de uma regulamentação cuidadosa para não gerar efeitos indesejáveis para a sociedade. Isto pode ser obtido através de boa regulamentação algo que infelizmente não devemos ter, dado o ponto anterior. Outra saída é privatizar mas, para tanto, é necessário se ter vontade política (o que já criticamos) ou mesmo ter ativos para tanto (o que não parece ser o caso atualmente). Finalmente, o aumento da carga tributária implica em manter um Estado, independente de sua eficiência em complementar a atividade privada (pode inclusive ser um fator prejudicial à mesma), sacrificando recursos privados. A qualidade dos serviços públicos e as ações sociais do governo atual (fracasso de programas como o Fome Zero ou o Primeiro Emprego) não o autorizam a se justificar perante os contribuintes com aumentos adicionais da carga tributária que empobrecem tanto os empresários quanto os consumidores.

Os quatro itens acima provavelmente são suficientes para convencer o leitor da inadequação da política atual do governo. Tomando-se especificamente o caso da política monetária, temos que a inflação não cederá a partir de determinado ponto dada a rigidez dos gastos e do endividamento público e o total descuido com os preços livres em setores cartelizados aliado às pressões altistas dos preços administrados (cujo responsável é, em última instância, o próprio governo).

O mais difícil, contudo, é um último item que talvez permeie todos os quatro itens acima. Trata-se da visão que o governo tem de si mesmo. Se o leitor analisar as últimas atas do COPOM - verá que a autoridade monetária trata a autoridade fiscal, de maneira bastante generosa. Não se examina os diferentes efeitos que uma política fiscal conduzida por cortes de gastos comparada a uma gerada por aumentos de carga tributária possuem sobre a economia. Há apenas a menção a um indicador, o superávit primário. Reproduzo abaixo as menções do COPOM ao complexo fenômeno fiscal, reduzido a mero indicador nas últimas três atas.

Ata 104a reuniao

11. Em relação à política fiscal, supõe-se o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005 e 2006. São mantidas as demais hipóteses consideradas na reunião anterior.

Ata 103a reuniao

12. Em relação à política fiscal, supõe-se o cumprimento da meta de superávit primário de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004 e de 4,25% nos próximos dois anos. São mantidas as demais hipóteses consideradas na reunião anterior.

Ata 102a reuniao

11. Em relação à política fiscal, supõe-se o cumprimento da meta de superávit primário de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2004 e de 4,25% nos próximos dois anos. São mantidas as demais hipóteses consideradas na reunião anterior.

O leitor que acompanha as atas sabe que as mesmas prezam por uma abrangência analítica impressionante (sem ironias): há indicadores para todos os gostos, desde diversos índices de preços passando por indicadores de produção industrial, índices de expectativas e, claro, o preço do petróleo. Mas não se lê nada sobre a diferença de um ajuste fiscal feito através de cortes de gastos e aumentos de impostos.

Não se trata – de forma alguma – de exigir dos membros do COPOM opiniões decididas e firmes sobre, digamos, (a) o adiamento do pagamento aos fornecedores promovido por muitos gestores públicos irresponsáveis ou (b) a contratação de funcionários para cargos de confiança.

Claro, não é mistério para ninguém que cortes de gastos públicos são difíceis e exigem vontade política. Mas, da mesma forma, nomear políticos para agências reguladoras ou enviar projetos de PPP também exigem vontade política. Conclusão: falta a alguém boa vontade política no que se refere a um ajuste efetivo de gastos públicos.

Este me parece o principal problema das atas do COPOM: reduzir o ajuste fiscal a um número que pode ser conseguido com uma elevada carga tributária ou um elevado corte de gastos, como se os mesmos tivessem o mesmo efeito sobre a sociedade..

O leitor que me acompanhou até aqui já deve estar adivinhando o que vou dizer: falta a percepção de que a maneira como se faz o ajuste fiscal é um incentivo. E incentivos errados levam a consequências ruins. A teimosia em não enfrentar a luta pelo corte de gastos prezando sua eficiência em prol de interesses específicos pode ter consequências danosas para a economia. Aqueles que criticam George W. Bush por aumentar o tamanho do Estado com gastos militares aprenderiam um pouco mais se prestassem mais atenção ao que acontece no Brasil atual. A realidade, eu garanto, não é tão rósea quanto o marketing oficial pinta.


(*) Agradeço a Gilson Geraldino da Silva Jr. por seus comentários.

Tuesday, January 25, 2005

Estado transfere o que não produz: antiga lição de livro-texto...mas muito ignorada ultimamente

Rui Nogueira, jornalista da Primeira Leitura, neste artigo, dá uma aula de Economia do Setor Público e, por que não dizer, de Escolha Pública.

Por que?

Trecho:

A gordura deixa o Estado sem agilidade e é um problema sério de desvio de investimentos. As políticas públicas ambíguas, para dizer o menos, reforçam a desconfiança da sociedade para com o Estado. Lula, por exemplo, alegra-se em perpetrar enganos brutais como o que vai cometer em Davos (Suíça), nesta sexta-feira, ao dizer em discurso para a nata do PIB mundial que “o terrorismo não deve ser combatido com armas, mas com a transferência de riqueza aos mais pobres”.

Transferência de riqueza? Como assim?! Em que mundo vivem Lula e seus assessores? Lula e dona Marisa não transferem riqueza para ninguém, nem mesmo para a família deles. Ninguém transfere riqueza nenhuma para quem quer que seja. Nenhuma sociedade transfere riqueza para outra sociedade. As sociedades criam condições ou não para gerar riqueza. As sociedades interagem, criam relações para maximizar as condições de geração de riqueza etc. Mas a riqueza que elas produzem teve e tem custo, investimentos.

É essa idéia “pobrista”, paternalista e demagógica que deve fundamentar a exasperação da sociedade. O problema é menos quanto se gasta e mais como se gasta neste momento. A ideologia por trás do gasto é o xis da questão.

Lula está disposto a usar o Estado para “transferir riqueza” aos mais pobres do Brasil, e o diabo é que esse Estado brasileiro não tem riqueza para transferir. Eis a questão. O melhor que ele tem a oferecer aos pobres é a eficiência dos instrumentos públicos do Estado para contribuir para a geração de riqueza. Coisas, claro, bem diferentes.


Precisa dizer mais?

Friday, January 21, 2005

Embrapa: uma aula de economia política e de como ideologias podem destruir um país

Quando leio uma notícia sobre esta, da EMBRAPA, penso em se ideologia é importante, mesmo que de difícil modelagem teórica.

E, sabem? É importante. Um bom texto sobre os efeitos econômicos que têm as idéias de má (Lysenko, amigos da - agora - antiga Embrapa, etc) ou boa qualidade...

Thursday, January 20, 2005

Direitos de Propriedade e a Filosofia da Liberdade

Para entender a importância de direitos de propriedade para preservação de liberdades individuais, sugiro o acesso a este site. É a apresentação mais simples e contundente que já vi sobre o tema. A apresentação tem + ou - 10 minutos e expõe a filosofia de direitos naturais.

Wednesday, January 19, 2005

Caldwell fala de Hayek

Bruce Caldwell é um famoso especialista em História do Pensamento Econômico. E esta entrevista com ele, na Reason, mostra o quanto ele entende de Hayek.

Particularmente acho fascinante. Recentemente ganhei um livro do meu amigo Ari, um de ensaios do Hayek no qual eu finalmente pude ler com calma o clássico: "Invidualism: True and False" (ou seria o contrário?). Quem ainda confunde individualismo metodológico com economia austríaca tem, neste ensaio, uma boa chance de entender as sutis diferenças.

Mas, voltando à entrevista, eu realmente recomendo a leitura. É uma aula de economia do ponto de vista de Hayek.

Tuesday, January 11, 2005

Parágrafos que eu gostaria de ter escrito - I

Dizer que o planejamento parcial do tipo ao qual nos referimos é irracional não é, entretanto, equivalente a dizer que a única forma de capitalismo que pode ser racionalmente defendida é a do total laissez faire no antigo sentido. Não há razão para presumir que instituições legais historicamente existentes sejam necessariamente as mais "naturais" em qualquer sentido. O reconhecimento do princípio da propriedade privada não significa necessariamente, de forma alguma, que uma certa delimitação do conteúdo desse direito segundo a lei existente seja a mais adequada. A questão do que seja o modelo permanente mais apropriado que assegure o funcionamento mais suave e eficiente da concorrência é da maior importância, e deve-se reconhecer que foi tristemente negligenciado pelos economistas. [Hayek, 1935, citado em: O'Driscoll & Hoskins, "Direitos de Propriedade - A chave para o desenvolvimento, Instituto Liberal, 2004-5]

e

O sistema de propriedade privada é a mais importante garantia de liberdade, tanto para os que possuem uma propriedade como para os que não possuem. É somente porque o controle dos meios de produção está dividido entre muitas pessoas que agem independentemente que ninguém tem total poder sobre nós, que nós, enquanto indivíduos, podemos decidir o que fazer conosco. Se todos os meios de produção estiverem em uma única mão, quer seja nominalmente da "sociedade" como um todo ou de um ditador, quem quer que detenha esse controle terá completo poder sobre nós. [Hayek, O Caminho da Servidão,citado em: O'Driscoll & Hoskins, "Direitos de Propriedade - A chave para o desenvolvimento, Instituto Liberal, 2004-5]



Monday, January 10, 2005

O Estado é Leviatã? - Jornalista destaca pontos importantes para reflexão

A discussão sobre direitos de propriedade, ideologia e grupos de interesse está sempre no cerne das teorias de Escolhas Públicas. O artigo do Reinaldo Azevedo (abaixo reproduzido com o link) me faz pensar mais sobre o assunto. E me parece que, mesmo que Reinaldo nunca tenha ouvido falar de Escolha Pública, ele a conhece melhor do que muito economista que, só porque estimou um "ciclo político-econômico", acha que sabe o que realmente significa esta interessante agenda de pesquisa.

Comentários são bem-vindos.

p.s. Jorge Vianna Monteiro fez uma impressionante (e ótima) resenha sobre PPP's que será publicada em breve, num volume de ensaios. Aguardo ansioso o lançamento.

Primeira Leitura : entenda : Confisco: o governo odeia a liberdade

Por Reinaldo Azevedo

Deve haver razões, provavelmente concernentes a uma soma complexa de saberes hauridos da psicologia, da política e da filosofia, que explicam a tara do governo Lula por taxar os prestadoras de serviço e os profissionais que se encaixam nessa categoria. A base de cálculo da Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CSLL) dessas empresas aumentou, na gestão daquele que prometia arrombar também a gramática do impossível, mais de 160%.

Por que será que Lula e seus homens de preto odeiam tanto esse setor da sociedade e o pune com tanto vigor? A resposta mais simples e óbvia, mas insuficiente, é que devem achar que há, no conjunto dos escolhidos para pagar a conta, muitos sonegadores. Ouso, no entanto, levantar hipóteses adicionais, buscando causas estampadas no inconsciente de um governo cujo líder, está provado, não tem superego e parece fazer escola.

Vamos ver: se Lula jogasse duro com o mercado financeiro, por exemplo, o mais provável é que levasse uma especulação no centro da testa. Seu governo conquistou a duras penas a tal confiança, o que lhe custou uma boa dose de chateação e ao país um pedaço do PIB em 2003. E, agora, vejam só: o presidente se comporta como o Piupiu diante do Frajola. Todo catito, balança sua sabedoria na gaiola. Por esperto que é, acha que sempre dá um truque no gato; por frágil, sabe que está amarrado a uma lógica da qual não vai se livrar.

Amplos setores da economia, tanto a financeira como a produtiva, mantêm, por necessidade, é bem verdade, uma relação de subordinação com o Estado e com o governo. Muitos dependem dos cofres públicos para executar obras, serviços, fornecer mão-de-obra. Raros foram os ministros da Fazenda, pouco importando o regime, o governo ou sua maior ou menor crença na iniciativa privada, que não receberam láureas e comendas. Aquilo a que o PT antigamente chamava “elite” é, em verdade, no Brasil, muito mais frágil do que aparenta e, infelizmente, bastante dependente do dinheiro oficial.

E isso explica, em parte ao menos, não haver no país a cultura do cidadão contra o Estado. Ao contrário: buscam-se boa vizinhança e boa convivência com o poder. E, de fato, os que optarem pelo confronto estarão lascados. A manifestação virulenta desse risco viu-se na CPI do Banestado, com suas muitas listas vazadas sobre pessoas que manteriam contas no exterior. Um instrumento da República, na sua instância a rigor mais nobre, prestou-se abertamente à chantagem.

Na outra ponta, há os trabalhadores “formais” organizados pelas centrais sindicais, a CUT em especial — que, havia muito, devia a seus associados alguma forma, ridícula que fosse, de independência para contrastar com sua até aqui asquerosa sabujice. Também esses trabalhadores, para os quais a correção da tabela de IR fará alguma diferença, são subordinados: se não são exatamente governodependentes, são massa de manobra de um organismo que é mera correia de transmissão de um partido político.

Os independentes
E os prestadores de serviço? Não sei se notam: vejam lá as categorias que seriam mais atingidas pelo confisco. Constituem justamente parcela importante da sociedade que não se deixa capturar nem pelo Estado empresário nem por migalhas oferecidas pelo complexo Planalto-PT-CUT. Trata-se de médicos, engenheiros, consultores, advogados, jornalistas... Uma gente que, ora vejam!, busca levar uma vida independente desse misto de paternalismo bocó com regime policial que se vai instalando no país.

Eles resolveram, pois, por conta própria, romper os limites de uma legislação trabalhista atrasada, que hoje não chega a contemplar metade da mão-de-obra ativa do país, em busca não do enriquecimento fácil, mas da sobrevivência. Foi a forma que encontraram de se ver livre do custo que é sustentar “profissionais” como Lula, Luiz Marinho e afins.

Na esfera da psicologia política, o que o Estado confiscador, a burocracia e o PT não aceitam é a independência dessa gente, inclusive a ideológica, já que tendente a formular e a verbalizar uma crítica mais aguda a governos, não se deixando encabrestar pela demagogia.

E, notem bem, não é que esses profissionais tenham decidido partir para a marginalidade, para uma existência econômica nas sombras. Não! Ao contrário! Protestam contra o confisco justamente porque, afinal de contas, pagam os seus impostos. E são considerados, vê-se, inimigos do governo. Parece que Lula quer bani-los da economia, jogando uma parte no desemprego, outra na informalidade, devolvendo, talvez, meia-dúzia de gatos pingados à “proteção” da caduca CLT e da CUT pelega.

O que Lula, o PT e os homens de preto não suportam é a insubordinação desse grupo; é ter ele se desinteressado do governo; é não entrar na fila do balcão, fazendo a genuflexão e oferecendo a sua subserviência. É um governo que tem raiva da liberdade. E já o demonstrou antes, quando tentou expulsar um jornalista estrangeiro do país ou recorreu a seus esbirros para impor um Conselho Federal de Censura apelidado de Conselho Federal de Jornalismo.

É a luta do indivíduo contra o atraso corporativista, aparelhista, patrulheiro, bocomoco, cafona, ineficiente, chantagista e mistificador. Uma parte dos brasileiros decidiu desistir do governo, trabalhando como se ele não existisse (a não ser para cobrar os impostos), alheia ao discurso oficial, às patuscadas nacionalistas, às mobilizações coletivas, ao triunfalismo fascistóide.

Descobriu-se, enfim, que há uma gente ousada no país que busca defender a sua vida, a sua felicidade, os seus interesses sem pedir nada a Lula, sem esperar nada dele, sem se comover com sua fala e suas lágrimas frouxas, como se ele, de fato, fosse um dado de uma alucinação coletiva. Descobriu-se, enfim, que há uma parte dos brasileiros que já consegue ser o que todos, quem sabe!, serão um dia: indivíduos que dependem principalmente de si mesmos e do seu próprio esforço para viver. Há, pois, alguns milhões de cidadãos algo órfãos de partidos e de políticos que assumam a causa do indivíduo que rejeta a condição de homem-massa ou de servo voluntário do Estado pançudo.

O PFL adiantou-se para a batalha. Espantoso, até agora, é o silêncio do PSDB. Só o governador Geraldo Alckmin (SP) expressou preocupação com os efeitos da MP 232. Há mais declarações de tucanos em favor da candidatura do petista Luiz Eduardo Greenhalgh à presidência da Câmara (que, a rigor, é um problema do PT) do que contra a medida confiscatória — que é um problema da sociedade brasileira. Parece urgente que se ouça mais a voz rouca das ruas e menos a algaravia brasiliense.

Afinal, o povo elegeu o PSDB em 2002 para ser oposição. E reforçou essa indicação em 2004. Ou estou enganado?

Tuesday, January 04, 2005

Segurança Pública no país das PPPs

Eis um artigo que toca em pontos delicados. O autor diz que não fala de privatização da segurança mas que nome dar ao arranjo que ele propõe, creio, é irrelevante. Ou melhor, é irrelevante se você consegue definir bem do que se trata.

Não sei o que o leitor pensa (temos os comentários para isto), mas pelo menos é a primeira vez que alguém indiretamente, reconhece o problema da segurança como um bem econômico cuja tecnologia (no sentido de Kydland & Prescott, ou seja, técnica ou legal) pode transformar aspectos públicos em privados ou vice-versa. Ele não diz isto, mas acho que o ponto crucial da discussão é este.

Talvez você tenha de se cadastrar no JB para ler todo o artigo. Aí vai o link: Partindo-se da premissa que os governantes brasileiros parecem não considerar a segurança pública como uma necessidade humana básica, vamos, então, tratar este assunto como um negócio lucrativo, para que, assim, possa despertar o interesse dos políticos e autoridades.

Na realidade, a segurança pública, com objetivos sociais e empresariais é um grande negócio que pode gerar lucratividade e riqueza para a sociedade, ainda mais agora, com a aprovação da Lei das Parcerias Público-Privadas. Nesse caso, a iniciativa privada poderá executar projetos de segurança pública, investindo na construção de presídios, quartéis, vilas militares e centros de treinamento, na modernização tecnológica das delegacias e centrais de inteligência e na aquisição de equipamentos e armamentos. Em contrapartida, os poderes públicos garantiriam os interesses da sociedade e seriam responsáveis pela implementação, gestão, controle e suporte legal dos projetos.

Cabe ressaltar que não estou falando de segurança privada nem de privatização da segurança pública, mas da participação da sociedade em projetos que garantam a nossa sobrevivência. Os resultados esperados pelos investimentos citados não podem ser representados por fluxos de caixa individuais, mas por um fluxo de caixa coletivo, representativo de todos os negócios juntos. Os investimentos seriam da sociedade, através de pools de empresários, para que a própria sociedade seja beneficiada como um todo.

Na verdade, os projetos de segurança pública devem ser implementados tal qual as avaliações de projetos privados. Entretanto, pelo fato de ser uma parceria público-privada, o interesse da sociedade deve ser levado sempre em consideração.

Os lucros privados e sociais serão decorrentes dos benefícios naturais dos projetos, tais como: aumento das taxas de ocupação dos hotéis, cinemas, teatros, restaurantes, aviões, ônibus, trens, metrôs e táxis; aumento das vendas do comércio de rua e dos shopping centers; crescimento da produção industrial; valorização imobiliária; incremento nas vendas de automóveis; geração de empregos diretos e indiretos; aumento de tributos; redução dos prêmios dos seguros e das indenizações pagas pelas seguradoras; redução das despesas individuais com segurança; reduções das perdas de vidas humanas; diminuição das fobias e histerias coletivas; aumento da auto-estima e da qualidade de vida.

Sunday, January 02, 2005

E por falar em Escolha Pública...

Randy Simmons destaca durante evento em Porto Alegre que a grande maioria dos eleitores vota pela emoção

O Instituto de Estudos Empresariais (IEE), em parceria com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e o Instituto Liberdade (IL), promoveu uma palestra nessa segunda-feira, dia 13, às 19h30min no auditório da ESPM (Rua Guilherme Schell, 350) com o professor de ciência política da Universidade de Utah e membro pesquisador da Independent Institute, Randy T Simmons. O tema do debate foi “Para além da política: mercados, bem-estar social e o fracasso da democracia”, mesmo assunto abordado em obra de sua autoria. O objetivo do encontro foi debater sobre as políticas de bem estar social e a burocracia governamental, avaliando os pressupostos responsáveis pela baixa eficiência das políticas públicas em sociedades democráticas. Além disso, foi colocado em pauta o grau de eficiência (custo/ benefício) das políticas governamentais para solucioná-las.

Simmons comparou diversas vezes o sistema político com as práticas de mercado: “Enquanto o mercado é um sistema que visa ações individuais, a política visa ações coletivas”. E complementou: “O consumidor vota com dinheiro no produto que deseja, conforme a sua necessidade e seu poder aquisitivo. O eleitor vai para as urnas, gasta um voto, e precisa esperar um número suficiente de pessoas concordarem com ele para eleger seu candidato”.

O professor de ciência política também criticou a forma como as pessoas costumam votar: “Cerca de 12% dos eleitores se importam muito com o sistema político, e votam de acordo com ele. A grande maioria vota pela emoção. Eles torcem pelos candidatos com os quais possuem mais afinidade, como se fossem times de futebol”. Simmons acredita que os votos medem o conjunto de pessoas com a mesma preferência, mas não avaliam sua intensidade: “49% das pessoas podem se opor totalmente a alguma coisa, mas 51% não se preocupam tanto com isso, enterrando os opositores”.

Simmons falou sobre o empreendedorismo nas gestões públicas e privadas. Explicou que os empreendedores privados avaliam os custos e benefícios dos seus projetos, enquanto os empreendedores públicos medem os votos e benefícios, mas não os custos, que são muito dispersos e ocultos. “Os políticos enfatizam os benefícios, não os custos”, afirma. Sobre a forma de abordagem da população para com seus governantes, o professor orienta: “Organizem-se em grupos de interesse, como o Instituto Liberdade e o Instituto de Estudos empresariais o fazem. Procurem conhecer o trabalho dos políticos e como eles trabalham”. Para finalizar, Simmons defendeu que a área de atuação dos governantes deve ser restrita a serviços básicos para atendimento da população, e que os demais serviços podem ser privatizados, reduzindo pela metade o custo repassado para a população nos impostos.
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